Gastronomia de Bordo – Clube de Vela – Não é só a vista… a qualidade!

Entrar nas renovadas instalações do Restaurante Clube de Vela vale a pena só pela vista. Mas nestes tempos ingratos do confinamento compensa, ainda mais, a vista que temos para a Ria de Aveiro, o ancoradouro, os miúdos nos optimists, tudo… mesmo quando está nevoeiro na Costa Nova do Prado, algo não assim tão raro!

À entrada somos recebidos, como é da praxe, por uma flute de espumante. Encaminhados para o local do repasto, higienicamente limpo à minha vista, solicitei a carta de vinhos pois o restante já estava previamente escolhido.

Copos de qualidade e uma carta de vinhos que se inicia pela região da Bairrada fazem-me brilhar os olhos. A predominância dos brancos também é de louvar, estando a carta também com Dão, Douro, Alentejo, região dos Vinhos Verdes, Espumantes e Champagnes. Boas opções, entre o equilibrado e… as ocasiões especiais. Optei por perguntar o que me sugeriam e dos três vinhos propostos (que estariam equilibrados para as propostas gastronómicas), optei pelo Lote Especial Caves São João Branco, cujas Maria Gomes / Bical / Chardonnay estiveram a preceito por toda a maratona gastronómica.

As honras iniciais foram para a dupla entrada, acabadinha de fazer: os pasteis de bacalhau, com o formato clássico e saboroso recheio ainda estavam muito quentes, mas deliciosos. As línguas fritas, com excelente ponto de sal e quantidade generosa, primam por uma polme macia. Pessoalmente, prefiro a polme mais crocante, mas no global estavam muito boas.

Preparado para os dois pratos principais (posso dizer que os dois comensais irão ficar satisfeitos com o menu), recebi a massada de línguas, feita com cotovelinhos e com uma prevalência enorme aos sabores do mar. Um excelente molho, com picante q.b. em que o tomate, a salsa e brilham e onde os sabores estão todos muito bem apurados. Globalmente apetitosa. Era um pecado ficar sem fome para o “Bacalhau e o Mar” por isso não acabei com a dose completa.

Este prato é uma dose hipergenerosa de um bacalhau “estilo narcisa” mas com o mar à mistura. Feito normalmente com uma posta de bacalhau costa a costa, batatas grosseiramente cortadas e fritas, cebolada no ponto, azeitonas cortadas para apurar sabores, mexilhões e ameijoas. Tudo no ponto e com qualidade. É preciso estar preparado para comer tudo…

É que é preciso mesmo, porque a casa decidiu que quem participasse no Festival tinha direito, na mesma, ao flute, ao couvert e à sobremesa, tudo incluído no preço. Então, veio um cheesecake de frutos vermelhos para a mesa. Final feliz de uma excelente refeição!

Para uma futura visita, recomendo-vos, se preferem os sabores de antigamente, o “Bacalhau e o Alho”. Bacalhau cozido à moda antiga, com cebola, alho, e azeite de qualidade. A salsa e a pimenta preta para apurar sabores. Um prato que relembra as mesas das avós.

Manuel Almeida Santos já é um nome conhecido na restauração aveirense. Criador de inúmeros espaços de qualidade sente-se na Costa Nova feliz com este projeto e aguarda marés com mais alegria. Abrir em tempos de pandemia não é fácil. Abrir e renovar um espaço que era icónico na Costa Nova e que merece voltar a ser.

Um local a visitar, seja no Festival Gastronomia de Bordo ou não!

entradas

LÍNGUAS DE BACALHAU FRITAS

PASTEL DE BACALHAU

pratos principais

MASSADA DE LÍNGUAS

BACALHAU E O MAR

60,00€/2 pessoas (inclui flute de espumante à entrada, couvert e sobremesa)

Clube de Vela da Costa Nova

Avenida José Estêvão s/n, Costa Nova

sexta e sábado 12h00 ~ 15h30 e 19h00 ~ 22h30 e domingo 12h00 ~ 15h30

informações e reservas 234 360 250

Gastronomia de Bordo: D.Fernando – regresso às origens, reinventado!

A Costa Nova para mim é um local de paixão, amor e saudade. Durante 20 anos o mês de Setembro significava praia, férias, paródia, tripas e diversão. Tenho um amor infinito e considero-a a minha segunda casa. Ora, é fácil enquadrar na memória de infância o local pelo qual passava – O restaurante D. Fernando e a Pensão Pardal. A rua dos banhos. Os príncipes e o camarão da costa. Saudades. É um marco da Costa Nova, tal como a Marisqueira. É que o D. Fernando já existe desde 1984.

Com uma das melhores localizações da Costa, convém, é mesmo importante saberem, que o D.Fernando voltou à mesma família. O filho, o Nelson Almeida, depois de vários anos a arrendar o espaço (entre 2005 e finais de 2016) fez algumas obras e pegou novamente na casa. E se há males que vêm por bem, o COVID lançou-lhe mais um desafio: renovar os clássicos, apresentar novos conceitos e mostrar que o futuro pode ser tão ou mais brilhante que o passado.

Mas já lá voltamos. Admirem as fotos dos pratos porque irei falar do menu, da experiência gastronómica que terão se aproveitarem o Festival Gastronomia de Bordo para conhecerem este espaço. Ou lá voltarem depois de uma ausência.

Aproveitei o bom tempo e fiquei na esplanada. Duas entradas e dois pratos principais estavam à minha espera. A esplanada, pequena de 26 lugares nestes tempos, permite aproveitar duplamente: o almoço e a Costa.

Os olhos também comem é um “lugar comum”. Mas é verdade. As línguas em “beurre blanc”, duas para podermos referir o plural, estavam soberbas. Melhor início, primeiro passo para causar uma boa impressão. A segunda entrada é, quase, um prato principal, pois é o conhecido Brás de bacalhau, aqui em galete, e claro, quantidade com peso e medida.

Manteve a excelente apresentação do primeiro prato, notava-se a qualidade do produto, a crocância inicial e sabores muitos agradáveis. O nível de expectativa estava elevado.

Entretanto, o vinho tinha chegado à mesa. A carta de vinhos é a habitual nestas bandas: Douro e Alentejo em grande quantidade. Optei pela sugestão do colaborador, um Maria Izabel 2018 branco, que cumpriu a sua função com mérito. Quer o vinho quer todo o serviço.

Mas a refeição iria entrar nos seus pontos altos. O cevadoto de samos estava fantástico, com as algas, a chouriça crocante (aliás, o prato tinha várias técnicas bem trabalhadas), os samos bem definidos e de bom tamanho. Tudo delicioso. E a combinação com o segundo prato, com o seu estilo mais clássico, consegue agradar a gregos e troianos. O taco de bacalhau, os grelos, a batata foram um excelente remate para a refeição.

Fernando Almeida, cujos pais estiveram na génese da casa, com a mãe na cozinha e o pai, muito conhecido por ter sido chefe de sala da Marisqueira, e um dos grandes recrutadores naquela que era a “escola” da época para o sector, a fazer a sua arte na mesa, está de parabéns.

Mas está igualmente de parabéns porque arriscou e foi buscar, em 2020, o Fábio Silva, um jovem chef que fez o seu tirocínio por bons nomes do norte, sendo o último o Yeatman e que foi pescar ao Antiquum pelo seu braço direito da cozinha. Está uma nova carta em preparação mas os clássicos, o Ensopado de Rodovalho, o Arroz de Lavagante e a Caldeirada de Enguias, certamente estarão na nova carta, que se vai centrar em bom produto, numa apresentação cuidada e, quem sabe, mostrar a excelência dos nossos mariscos.

Fica a desculpa para lá voltar. Mas eu aconselhava-vos a ir desde já, aproveitando o Festival Gastronomia de Bordo!

entradas

LÍNGUAS COM BEURRE BLANC

BRÁS EM GALETE

pratos principais

CEVADOTO DE SAMOS

TACO DE BACALHAU

25,00€/pessoa

D.Fernando

Avenida José Estevão, n.º 164, Costa Nova

12h00 ~ 16h00 e 19h00 ~ 22h00

Informações e reservas 234 361 308 ou 913 265 321

Gastronomia de Bordo: Iguarias – A nova vida do André

Entramos na Costa Nova do Prado. Temos a opção de continuar a bordejar a Ria ou seguir mais para o lado do mar, continuando em frente. Passado uns 200 metros da “Biarritz” encontramos, à esquerda, o Iguarias. Foi lá que almocei!

O desafio era, mais uma vez, provar a experiência gastronómica prevista na “Gastronomia de Bordo”, a saber: creme de ervilha com tártaro de bacalhau; sopa de bacalhau lascado, ovo escalfado e tostas e o Bacalhau à gaúcho mas tive oportunidade de conhecer muito mais.

Numa casa que reabriu no Verão e que ainda está a ser desenhada à imagem dos desejos de André Vilela, um jovem veterano (35 anos) do mundo que aterrou na Costa Nova, sentimos já uma certa identidade e a busca pela perfeição. Num domingo chuvoso, captou a atenção pelos melhores motivos. Tradição com twist parecia a palavra de ordem.

Mesas com espaço, e opções variadas, e na mesa, uma cesta com pão de Vale D’Ílhavo e broa de milho, que poderiam ser apreciados com duas manteigas: a de alho e ervas e a de alcaparras e caril. À entrada, um mimo do chefe, já depois de escolhida a opção “experiência”. Poderia optar entre os panadinhos de atum com maionese, pataniscas de salmão ou azeitonas marinadas. Fomos para os primeiros, que cumpriram a sua função a preceito.

Enquanto isso, analisei a carta de vinhos, que surpreendeu. Mostrou vontade de ter produtos diferentes e de qualidade, sem esquecer alguns valores seguros. Mais uma vez, o Douro era rei e senhor da carta e a Bairrada mostrava-se escondida, com excepção dos espumantes, bem representados. A opção foi para o Quinta Daniel em modo Branco, um grande senhor do Pocinho, um Douro Superior de mestria.

A entrada deslumbrou pelos sabores. O creme de ervilha estava espesso e delicioso e o tártaro de bacalhau, com flor de sal, uma bela surpresa. De seguida, chegou a sopa de bacalhau lascado, tomate e ovo escalfado, em pão torrado. Boa apresentação, com pasta de azeitona a dar um colorido diferente e um delírio de sabores tradicionais, quase uma refeição, onde triunfava nas papilas gustativas o tomate, a cebola e o ovo, com bons temperos e que casava, na perfeição, com o tempo chuvoso que permanecia na rua.

Completamente reconfortado, já sabia que iria aparecer outro prato: o bacalhau à gaúcho é um prato em que uma boa dose de bacalhau islandês aparece bem trabalhado, “à braga”, com cebola cortada de maneira rústica, batatas fritas caseiras bem fininhas, pimento e maionese de lima. Mas o twist da lima, ralada, por cima dá um toque bonito ao prato e muito agradável ao paladar. Tudo no ponto!

Já muito satisfeitos, optámos pela gulodice. E numa opção que já começa a ser tradicional na nossa região, o restaurante permitiu um “pijama” de três doces – qual deles o melhor: Tarte Banofi (uma base de biscosto, banana, caramelo e crocante) com apresentação cuidada, um crumble de maça desconstruído e uma mousse de chocolate com azeite do Douro.

Completamente a “rebolar”, conversei um pouco com o André Vilela. Nado e criado em Lisboa, estudou na Escola de Hotelaria do Estoril, em Restaurante/Bar. Fez o seu tirocínio com grandes nomes da restauração e foi alargar horizontes em projetos em Inglaterra, onde foi somando lugares, formações e conhecimentos.

Veio para a nossa região, onde os seus familiares têm raízes mas, se calhar pelo nosso espírito, ainda foi para os mares, entrando na dura mas ao mesmo tempo proveitosa vida do circuito de cruzeiros. Finalmente, meteu âncora na Costa Nova e, com uma jovem equipa, onde se realça a dupla de chefes João Campos e Ana Rita Ferreira, estão prestes a dar a conhecer uma carta onde pratos com “toque” de chef e cheios de imaginação irão ombrear com os tradicionais. Mas sempre com um twist! A (re)visitar em breve!

Iguarias – Food & Drinks Avenida Nossa Senhora da Saúde, Costa Nova
terça a sábado 12h00~15h00 . 19h00~22h00
domingo 12h00~16h00
Reservas: 914 415 244