Os melhores vinhos de 2017 da Bairrada… segundo os críticos!

Um estudo Magnum Wine Club / BairradaWinePassion determinou os melhores vinhos da Bairrada para os críticos portugueses. E as conclusões são agridoces para os produtores desta grandiosa região.

Fazer uma avaliação de um vinho baseado nas opções de somente um crítico é sempre falível. Por muita consideração que tenho por qualquer um dos críticos, poderá haver condicionantes (zangas entre produtores e críticos, gosto pessoal, ser prova cega ou não) que façam com que o exercício solitário da avaliação seja, como referi, solitário e exclusivo. E também por isso, embora tendo opinião pessoal, recuso-me a fazer notas sobre os vinhos. Poderei, eventualmente, fazer listas dos vinhos que me apaixonaram, harmonizaram melhor, os de um determinado evento mas não dar notas absolutas de prova quando nem as condições são as melhores.

Entendi por isso, pegar nos críticos portugueses da imprensa especializada e em avaliadores regulares de vinhos para analisar como se comporta a Bairrada em geral, e os vinhos e os seus produtores em particular. E a imagem poderia ser bem mais bonita, o que comprova que ainda falta muito por fazer.

Para avaliar quais os melhores vinhos provados em 2017, temos que fazer duas tabelas: uma absoluta (que pessoalmente desconsidero em relação à outra) e outra em que apenas colocamos os vinhos provados por mais do que uma revista. Entendemos ser esta última mais JUSTA. Também avaliei as preferências pessoais de cada um dos críticos/revistas, nas tabelas que estão apresentadas no final do texto.

A segunda tabela, que como refiro, considero injusta, como poderão notar nas tabelas das revistas, é a seguinte:

Quanto a tendências e conclusões, aqui ficam:

  • Sendo a primeira vez que um comparativo destes é feito, referir que houve 232 vinhos analisados ao longo do ano é sempre uma análise subjectiva. Depende do trabalho de comunicação das empresas e da Comissão, depende da sugestão de temas e depende igualmente do que os produtores lançam para o mercado e querem ver promovido. As médias são o que são mas tendo em conta que há 40 produtores com vinhos analisados, dá uma média de 6 referências por cada um…
  • Segundo facto: 40 produtores com vinhos analisados. Destes, metade tiveram 4 ou menos referências analisadas. Podemos concluir duas coisas díspares: são somente 40 por cento dos associados da CVR Bairrada mas, pelo lado positivo, são o mesmo número de empresas que todos os anos estão na Feira do sector que se realiza no Velódromo.
  • Destes 232 vinhos, houve 137 analisados pelo João Paulo Martins (quase 60 por cento do total); 70 pela Revista de Vinhos; 60 pela Paixão pelo Vinho e 53 pela Vinho Grandes Escolhas (prejudicada nestas contas por não ter sido o ano inteiro…). Impressionante como os produtores escolhem por ignorar ou não aparecem notas de prova no FUGAS do Público, que ao longo do ano analisa mais de 300 vinhos e destes, apenas 7 foram Bairrada. Igual tendência no Fernando Melo (Evasões) e Aníbal Coutinho).
  • Estes números provam que os produtores da Bairrada, na sua generalidade, ou não querem mandar ou não sabem como mandar os seus vinhos para avaliação. É sintomático que o João Paulo Martins, que manda um email e solicita apoio à CVR consiga avaliar em 2017 o mesmo que as principais revistas… juntas.
  • Nota-se que há produtores que não se relacionam com certos críticos ou revistas. É tão evidente que nem vou fazer comentários em relação a isso. Cada um sabe da sua casa mas num modelo em que o vinho só aparece publicado se tiver nota 15 ou superior, estranha fica esta questão. Optei por não incluir os dados em bruto, estando disponível para conversar com quem pretender mais dados.
  • De louvar a dinâmica de Carlos Campolargo. Em diversas revistas, foram analisadas 23 referências da casa Campolargo, um destaque que lhe deu tempo de antena em todas as revistas e críticos da especialidade.

As casas que mais provas enviam, que usam mais esta ferramenta são a Aliança Vinhos de Portugal (o Aliança Reserva Tinto fez o pleno e foi analisado em todas as revistas e críticos), sendo Campolargo, São João e São Domingos igualmente versáteis a mandar. Casa de Saima, Messias e Adega de Cantanhede recebem menções honrosas nesse aspecto.

  • Não há qualquer relação entre ser grande ou pequeno e o número de críticas. Há casas que não mandam ou quase não mandam produtos para análise sendo empresas que produzem em grande quantidade e/ou ao mesmo tempo, recebendo outro tipo de prémios.
  • Há produtores que, pura e simplesmente, não enviam vinhos para análise nas revistas portuguesas. Vadio, Caves da Montanha e Filipa Pato são alguns exemplos, e esta última só apareceu numa reportagem na Vinho Grandes Escolhas – as notas dos vinhos são do guia de João Paulo Martins. Foz de Arouce e Luís Pato são outros casos. Em todos estes, a forte aposta no estrangeiro ajuda a perceber a opção.

É importante analisar também que a Bairrada é caracterizada pela preponderância de empresas de pequeno porte, com gestão familiar, o que poderá alterar a forma como se pensa na comunicação dos vinhos e no seu envio para análise.

Por fim, quero também lembrar que muitas das empresas da Bairrada ainda trabalham para um segmento de preço baixo (com produtos de qualidade interessantíssima para o preço apresentado) e entendem que os seus produtos não vão ser analisados devido a isso. Mas há bons exemplos do contrário, como poderei demonstrar a quem pretender.

Em relação à metodologia descrita abaixo, quero apenas realçar alguns pormenores. Optei, à falta de uma validação própria como a tabela da Decanter (de comparação entre notas 50-100 e notas 10-20) por fazer apenas a redução matemática, algo sempre criticável. Também poderão perguntar porque me centrei apenas em notas portuguesas. Simples… este estudo é para o mercado português, para o consumidor português. Desejo tudo de bom para as marcas exportadoras da Bairrada.

O estudo / ranking Magnum Wine Club / BairradaWinePassion 2017 tem por base os vinhos com denominação de origem Bairrada ou de produtores reconhecidos na Bairrada que submeteram garrafas suas a análise crítica de meios de comunicação social e críticos com publicações regulares. Foram escolhidas a Paixão pelo Vinho (nº67 a 70) referentes a 2017, Wine (a última edição), Revista de Vinhos e Vinho Grande Escolhas, Fugas, Evasões e os livros Copo e Alma de Aníbal Coutinho (só com 363 referências) e o guia do João Paulo Martins 2018.  Todas as marcas registadas são propriedade dos seus autores/produtores tendo este estudo sido realizado usando somente dados públicos, propriedade intelectual das revistas.

Os factos são factos, as conclusões são da minha inteira responsabilidade.

Aveiro, 15 de Janeiro de 2018

João Manuel Oliveira

jmo@magnumwineclub.com

Sobre os Prémios

12710939_1723247697911034_983962983019617197_oSejam cabeças bem pensantes, pseudo-intelectuais, meros consumidores ou iluminados, tocar no assunto dos prémios é como um citadino tocar num vinho de vespas. Mesmo sem querer, acho que vai ficar com dores, temos todos a certeza.
Este inicio decorre de alguma discussão sadia (ou nem por isso) que tem ocorrido sobre o assunto do momento: Prémios. Como disse a semana passada, os principais meios noticiosos publicaram as suas listas nacionais dos melhores do ano. Deixo-vos aqui os melhores do ano da revista Wine e da Revista de Vinhos.

Antes de partirem para duelos de baixo nível, que se resumem a dois tipos de argumentos (“estes parolos não percebem nada disto e o XXX é melhor vinho que o YYYYY” ou “isto é tudo comprado”) típicos de Festival da Canção e não de pessoas civilizadas que até bebem bons vinhos, aqui ficam umas dicas by myself….
Entendam os critérios. Uns decidem em grupo, outros decidem dos vinhos que ao longo do ano foram os melhores individualmente
As escolhas são humanas e podem, por isso ser faliveis. Ainda mais numa área onde as “notas de citrinos, conjugadas com amêndoas e ervas” são descritores…
Todos podemos fazer listas: assumam-nas num blog ou texto e sujeitem-se a críticas ferozes da mesma forma que vocês fazem a quem é profissional do ofício.
Antes de criticarem os julgadores, critiquem a indústria: num mundo de milhares de marcas, é normal serem realçados as que trabalham a sua comunicação, imagem, etc e não o contrário
As escolhas também reproduzm, em certa medida, os gostos pessoais, por muito que as pessoas tentem ser profissionais. Se não gosto de Merlot, não será um vinho feito com a casta que estará nos meus preferidos, de certeza…
E como disse alguém que considero, é uma lista. Ah, e as regras acima são válidas para as milhentas medalhas que os vinhos ganham, em especial a primeira: percebam os critérios de cada prémio ou concurso!!!

E aqui ficam os melhores. Para a Wine: VINHO DO ANO Henriques & Henriques Tinta Negra 50 Anos (Vinho Madeira) PERSONALIDADE DO ANO NO VINHO Paula Cabaço (presidente Instituto do Vinho da Madeira) PRODUTOR DO ANO Quinta do Mouro (Alentejo) PRODUTOR REVELAÇÃO DO ANO Susana Esteban (Alentejo) ENÓLOGO DO ANO Charles Symington SOMMELIER DO ANO João Chambel (Estado d´Alma, Lisboa)

Para a Revista de Vinhos, escolhe “As melhores Compras”, “Os Melhores de Portugal”, os “Prémios Excelência” nos vinhos e os Prémios Especiais:
REVELAÇÃO DO ANO: Caminhos Cruzados
PRODUTOR DO ANO: Casa Agrícola HMR/Quinta Vale D. Maria
COOPERATIVA DO ANO; Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito
EMPRESA DO ANO: Adega Mãe / Parras Vinhos
EMPRESA DO ANO (VINHOS GENEROSOS): Gran Cruz
IDENTIDADE E CARÁCTER: Niepoort Vinhos
ENÓLOGO DO ANO: Bernardo Cabral
ENÓLOGO DO ANO (VINHOS GENEROSOS): Álvaro van Zeller
VITICULTURA: Nuno Magalhães
ORGANIZAÇÃO VITIVINÍCOLA DO ANO: Comissão Vitivinícola Regional do Dão
ENOTURISMO: Adega Mayor
GARRAFEIRA: Garage Wines (Matosinhos)
SENHOR DO VINHO: Luís Pato
CAMPANHA PUBLICITÁRIA DO ANO: Casa da Passarella (“Uma história escrita com vinho”)

Deixo-vos com esta nota final: costumo ir a duas garrafeiras premiadas (5 Estrelas em Aveiro e Garage Wines em Matosinhos) e tive o prazer de estar este ano no “produtor do ano”… e com o “Senhor do Vinho… 🙂